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Reflexões – O estado da crítica de cinema em Portugal

João Lopes

Ser-se crítico, seja de que arte for, é sempre uma profissão difícil. Exprimir em palavras o que pensamos quando avaliamos uma obra de arte, e assim resumir em algumas dezenas ou centenas de palavras o resultado final de um processo normalmente longo e cansativo é uma tarefa ingrata, mas alguém tem que a fazer. Na minha opinião, não há maneira de alguma vez sermos totalmente justos nos julgamentos que fazemos de um filme se nunca passámos pela experiência de construirmos um. Logo, se uma pessoa tem possibilidade de criticar um filme deve fazê-lo com o máximo de cuidado para ser claro nas críticas que faz: partir de premissas com potencial, argumentar com rigor, etc.

A crítica de Cinema em Portugal, tal como o próprio Cinema, está desligada do povo. São raros os consensos entre público e crítica. Recorrentemente, o público acusa os críticos de serem pseudo-intelectuais, seres fechados no seu (pequeno) mundo, prestes a explodirem de filosofia, ao passo que a crítica acusa o público de estar manipulado pela globalização, principalmente por influências oriundas de Hollywood. Correndo o risco de ser polémico, penso que, no geral, só há dois tipos de críticos de cinema em Portugal: críticos que só gostam de filmes intelectuais e/ou “clássicos” e críticos seguidistas que só gostam do que determinados grupos dizem que gostam. Ambos os grupos evidenciam aquilo que de pior há na profissão de um crítico: ter palas nos olhos como um burro ou não ter espírito crítico. Se há algo que prezo na vida é a vontade de mudança, de respeitarmos visões diferentes sem nunca perdermos a nossa própria identidade, de consentirmos que estamos errados ou estagnados no tempo.

Quantas vezes não ouço pessoas dizerem-me “não gosto do crítico X pois ele só gosta de filmes seca”. Há um estigma que não compreendo e creio que nunca hei-de compreender: Se o filme X é clássico, então é seca. É simultaneamente estúpido e injusto ver o Cinema por esse prisma. Para mim, um filme clássico é um filme de excelência, que resiste à prova do tempo e da memória. Os verdadeiros filmes clássicos são raríssimos de encontrar e, como tal, devem ser estimados e um modelo de como fazer um magnífico filme. Eu já vi muitos filmes bombásticos que de bombástico nada têm, como por exemplo The Matrix Revolutions, The Time Machine ou Troy. Os três carecem de uma característica fundamental: alma. Filmes sem alma são filmes condenados à obliteração. E já vi muitos filmes clássicos que são bombásticos até dizer chega: Apocalypse Now, Elephant ou Metropolis. Não é a velocidade do desenrolar da história de um filme que nos diz se ele é ou não secante. São a história, os actores, o realizador, o nosso interesse pelo tema, o nosso estado de espírito, entre muitos outros factores, que ditam essa sentença.

Quanto mais tempo e atenção dedico à leitura de críticas de cinema publicadas em jornais e revistas portugueses, mais fico com a sensação que muitos dos críticos que classificam negativamente, mesmo positivamente, um filme, possivelmente nem o viram. Pode parecer um disparate mas por mais de uma vez li críticas na íntegra em que o autor dedica no máximo um quinto do texto ao filme que está a criticar. Quero acreditar que nenhum crítico faz isso, mas também me custa a acreditar ser possível divagar tanto, mas tanto, que uma pessoa chega ao final e sente que não ficou a saber qual a apreciação que o autor da crítica tem do filme. Depois há também o velho ritual de se querer saber sempre quantas estrelas foram atribuídas ao filme X. Esta guerra das estrelas não deve ser tida em conta, porque afinal o que interessa mesmo é ler a crítica e não procurar classificações. É muito mais estimulante e esclarecedor e menos redutor o texto do que as estrelas.

Deixo aqui o apelo à mudança de mentalidades, tanto de quem faz do acto ver um filme uma profissão como de quem o faz por gosto. Urge que comecemos a deixar os preconceitos e manias de lado. Urge que os críticos deixem de alimentar bocas que eles próprios fazem com que se abram. Urge que o público se eduque e pense antes de atacar só porque está na moda. Urge uma mudança. E o mais depressa possível.

Novembro 22, 2008 at 12:28 am 2 comentários


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